sexta-feira, 3 de maio de 2013



Parabéns, minha jovem senhora!

                                      
                                       Pois é, o sol hoje despontou como que para iluminar a jovem cidade aniversariante, a tal Princesinha do Norte, a bucólica de meio-fios caiados e alvoroçada de carros nesses tempos de comemoração e reflexão. Eu que nem me acho assim tão velho, lembro da cidade de um tempo que parece ir já tão longe que nem parece que vivo ainda exatamente na terra onde nasci. Sou do tempo da Miracema do Potoca, do Paraoquena ("Paroquena, pé redondo!" e lá vinha pedra e galope sobre a criançada implicante) e da Isabel dos Cachorros; dos carrinhos de rolimã e das búlicas para os jogos de bola de gude no Jardim; das carniças, amarelinhas e pique-esconde e polícia e ladrão; fui coroinha, participei de grêmios e corais na escola, jeca em São João e Apóstolo em Semana Santa (água gelada que me lavava os pés!)... tomei melado e mastiguei as canas, montei cavalos e corri de mulinhas nos carnavais dos tempos de bons carnavais; adorava tomate com açúcar e café fraquinho e doce como só a Marlene fazia na casa de minha mãe; tive bolhas nos pés descalços nos treinos de basquete com o Sr Nézio no Rinck e olhos ardidos pelas"lacerdinhas" das árvores, umas bem menores que essa que hoje estão na Praça; toquei tarol nos desfiles de maio e escrevi poemas nos meus cadernos; vi visitantes governadores atrás de votos e bispos em tempo de crisma; li os livros da Maria Alice Barroso e as poesias do Gilberto, o também Barroso, mas de Carvalho; aprendi rezas com os padres holandeses (Alberto, André, Jerônimo e Luiz) e comi os doces do Pegue e Pague da Arlete, mãe da minha amida Dadá (aliás, lembro-me muito da Dadá desfilando nas bordas da piscina do Clube XV com um corpo escultural em maiôs escandalosos para a época! - dessa vez ela me mata pelo comentário!); saboreei os quibes do Seu Abdo e os picolés Sibéria; comprei tecidos no Michel e levei para o Chiquinho fazer minhas calças compridas; comi Macarrão Miracema e tomei goles do café Katiá; comprei leite na carrocinha e pão do Leco tirados dos fornos das 3 da tarde; estudei com a Zizi Moreira e o Zé Felicíssimo, a Cilinha e a Vera Mota, Ruth Passos e Orlanda de Martino, Jane Ciuffo e Jarbas, o "Seu Fininho" (a qualquer movimento estranho dá-se um zero e poe-se para fora!) e tantos outros e tão saudosos que me dão orgulho de tê-los tido como mestres de minha infância; até mesmo as aulas de datilografia da Dona Otília hoje me lembram que o teclado é o mesmo; lembro-me do apito da Fábrica e do cheiro da Usina de cana adocicada ou do vinhoto ardido liberado;  lembro também do ribeirão tapete de flores amarelas do Ipê mais lindo e do poema da Glória também lindo em sua saudosa homenagem à árvore; os sapotis do quintal de minha avó alimentavam os morcegos e nos lambuzava a cara da infância, também de lábios colados pelos abios de vez; os casarões de minha infância, muitos deles ainda estão aí para contar minha história! E as Palmeiras da Praça Dona Ermelinda ainda clamam por um socorro que não tem resposta e que eliminam sempre mais uma quando nos damos conta! 
                                          É, velha senhora, cúmplice de meus sonhos, teia de minhas artimanhas, provedora de meus desejos, delícia de meus prazeres! Te homenageio hoje falando de mim mesmo, que passeei pelas suas calçadas e paralelepípedos, beijei algumas de suas meninas, finquei pés em algumas casas, brinquei com seus brinquedos e estudei no seu saber! Te acaricio na sua data e te agradeço o aconchego: perdoo os sonhos que não me permitiu sonhar mas te fantasio da mais bela princesa: Princesa, cidade minha!