terça-feira, 30 de março de 2010

  Marinho
                         Da janela também observo  o que acontece naquela cobertura de forma repetitiva e curiosa, domingo após domingo, fazendo de mim expectador de  cada movimento.
                         A porta dimensiona o gigante que entra e sai no seu dia solitário e rico na constução vigiada e vigilante do seu "redor" ; cato as migalhas do pão que me sobram e que alimentam o meu anseio e a minha busca por algo que está ali mas que ainda tenho travado dentro de mim. O vaso de flores e o tapete que me traz o frescor da grama de um piquenique qualquer saem da cartola do mágico personagem que não se cansa em nos revelar segredos... infindáveis possibilidades na convivência com a solidão!
                         O chapéu feito do jornal da minha infância também é barco e avião atacando a ciranda que minha mãe tantas vezes construiu para mim. Estou na beira do abismo que me limita e que me dá asas no voo em câmera lenta do astronauta e na pipa que me faz sonhar. Dos livros caixinhas de música recolho as mais lindas canções de minhas recordações. O manequin é a companhia fragilizada pela caixa que fica no canto de nossos cantos e que carregamos debaixo do braço de nossas esperanças.
                         E o tempo passa... e o tempo passa... e o tempo passa... E perplexo diante do ator que se entrega diante da platéia cabra-cega e emocionada, sou aprendiz de tudo e precursor dos sonhos que busco e que, gota a gota, se materializam para mim, na tempestade provocada pelo "Monstro Marinho", poeta e guerreiro da noite que me fez tanto bem! 

                                               

quarta-feira, 24 de março de 2010

Outono ...

                                      
       Outono ...

                                          De uns anos para cá já não suporto mais as estações limites, tanto o verão quanto o inverno. Temos tido verões extremamente quentes e os invernos sempre me lembram que já tenho uns   reumatismos aqui e acolá e  que doem um pouco mais os parafusos de platina que tenho implantados no meu ombro esquerdo. Então posso dizer que sou mais mesmo um apreciador de outonos e de primaveras! Ainda mais que outono tem conotação mesmo de maturidade, desprendimento, ficamos assim feito que desprendedores de folhas secas que espalhamos pelos chãos dos caminhos por onde passamos! 
                                               Sempre ligo o outono de minha infância à estação dos frutos maduros e saborosos... mas com a evolução da tecnologia agro-industrial, já temos frutos em qualquer estação! Então fica o outono assim com um muito do verão ainda nos seus primeiros dias e uma passagem lenta rumo ao inverno! Algumas fotos do Canadá ou de algum país europeu ainda nos mostram as árvores com seus troncos nus e tapetes de folhagens mortas pelo chão! E fico assim me metamorfoseando naqueles troncos tão desprendidos que se entregam nessa troca com a natureza, como partícipes das coisas da Terra. E caminhamos formando também nosso tapete de folhas mortas, coisas deixadas para trás como se secas e já descoloridas estivessem e não nos importassem tanto mais... e algumas delas são carregadas prá lá e prá cá pelos ventos das tardes e outras ficam lá, nos esperando nos caminhos das voltas para que as revolvamos um pouco mais!                           
                                              Vez por outra, essas folhas são até mesmo pessoas... já tive algumas perdas queridas nesse início de outono e que certamente serão folhas-memória que me alimentarão saudades! O bom mesmo é sabermos que os caules, estes mastros de nossas lutas de resistência nos embates contra a devastação de tudo, ficarão postos feito guerreiros silenciosos que nos meses seguintes hibernarão desejos de flores lindas para a nova Primavera!
                                            Acho que no outono a gente pensa um pouco mais... não sei se acontece com todo mundo, mas fiquei mais reflexivo sim, de uns outonos para cá... não sei se tanto pelos frutos ou se pelas tais folhas que caem... nem sei se caem tanto mais nesse país tropical com o tempo desobediente que temos vivido... mais um outono está aí! Até quando o Inverno chegar... até quando a Primavera chegar!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Poema




Plante um beija-flor no quintal 
                                 do seu coração...

Para que ele baile diante de seus olhos
                     com as cores dos mais diferentes hibiscos;
Para que ele traga, com seu bater de asas,
                     as brisas dos ventos norte;
Para que ele inunde, gota a gota, seu sangue
                     com o perfume das Rainhas da Noite;
Para que ele te leve, beijo a beijo, o néctar
                     das rosas do meu grande amor.


                             E plante-o de tal forma
                             que você possa, de vez em quando,
                             levá-lo à sua palma da mão...

Para que a mão prenda-o com a força
                     que deves usar para cativar pessoas;
Para que a mão solte-o levemente
                     quando você quiser chorar;
Para que a mão o impulsione bem forte
                     nos vôos de seus novos sonhos:
- Suaves mãos o cariciem nos momentos 
                     de grandes saudades!

                            E tendo-o plantado,
                            Cuide bem desse quintal
                            Que lhe dará as flores de seu
                                                             novo buquê.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Livros & Livres



Livros & Livres

                                Tenho uma estante na minha casa, fruto da reforma de um antigo armário de cozinha, onde ficam meus livros: pelo menos aqueles que mais gosto, que mais marcaram minha leitura. Organizei-os em ordem alfabética por autor, onde fica mais fácil achar o que estou procurando, ou para emprestar ou para reler em partes ou no todo; falando assim dá até impressão que é uma larga biblioteca daquelas que a gente via (digo via pois já não se vê mais livros nas casas de novelas) e imaginava a delícia de morar numa casa de tantos livros. Mas são uns cento e tantos volumes daqueles que acabei ficando como representativos do que gosto de ler. Alguns clássicos da literatura brasileira, outros de poesia, bibliografia ou história, filosofia ou psicologia, best-sellers americanos ou australianos, contos e crônicas nacionais, artes e odontologia, enfim, livros livres, sem muito compromisso com essa ou aquela linha literária. 
                               Há ainda um cantinho reservado para aqueles que pego emprestado com algum amigo para que eu não os esqueça de devolver; já perdi muitos livros que emprestei e que não voltaram mais! E também vez ou outra faço doação de algum volume que imagino interessar mais à pessoa que o entrego do que a mim mesmo: coisas que sei que não vou ler mais!
                              E ficam lá, sempre à mão, esperando que eu os manuseie novamente ou até mesmo servindo de adorno para a eclética decoração de minha casa! E aquela fila de volumes desconexos em tamanhos e cores das lombadas, volumes de centenas de páginas ao lado de outros magrinhos "de bolso", páginas já amareladas de uns e novinhas como se nem tivessem sido lidas dos mais recentes e mais bem encadernados, ficção e história real tão juntas que muitas vezes nem nos damos conta do fio tênue que separa uma da outra... enfim, livros e livres companheiros de uma vida toda. 
                              Algumas vezes corro os dedos indo do Afonso Romano de Santana à Zélia Gattai, procurando uma companhia qualquer para uma saborosa leitura, já sabendo o recado que me será dado ou descobrindo uma nova forma ou um novo conteúdo não percebido antes.  Fico feliz quando pego a Luiza "fuçando" meus livros na busca de algo que a interesse: e surpreso quando ela me fala que terminou o livro e vem me contar coisas que descobriu ali; nestes tempos em que competem de forma desproporcional com os computadores, sempre torço pelos livros, mesmo também eu sendo muitas vezes seduzido a ficar no computador.
                            Os livros nos fazem criar e imaginar coisas muitas vezes completamente diferentes daquelas da intenção do autor. E nos aguça sabores, odores, cores e emoções, amores e temores, heroismos e autruismo... ah, como viajo nas asas da imaginação! Como são livres estes livros tão pertos... silenciosos e cúmplices de meus gritos e de minha liberdade de ser!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Procura-se uma Fêmea!

 
                               
                                   RAVI
                      Meu nome é Ravi, sou um Lhasa Apso, tenho 2 anos e estou a procura de uma fêmea com boas intenções para comerçarmos uma família; espero que ela já esteja no cio, prontinha para uma cruza gostosa. Não acredita muito se disserem que sou bipolar: realmente sou carinhoso mas tem horas que fico completamente irritado e mal humorado. Mas prometo tratar minha fêmea com delicadeza e lhe dar um rápido momento de prazer. Caso queira se candidatar, só telefonar para minha "patroa" Claudia: (22) 81152151. Estou aguardando ansioso: liga logo que já estou ficando nervoso! au-au-au para todos! 

segunda-feira, 8 de março de 2010



8 de março... só dá elas!

                                       E por ser hoje o Dia Internacional da Mulher, também vou eu fazer homenagem aqui depois de uns bons puxões de orelhas que recebi de uns amigos por ter ficado uns dias sem postagem alguma. É que estou envolvido com as apresentações do Grupo de Teatro Amador da Terceira Idade que se apresentará em Juiz de Fora e a ansiedade tira um pouco a inspiração! rsrs Mas é claro que não vou homenagear falando aqui da minha mãe, ou  das mães dos meus filhos, ou das minhas filhas, ou de tias, amigas, companheiras de trabalho, enfim... Homenageio a mulher através dos personagens femininos das peças que escrevi e, claro, são frutos das várias características que cada uma das mulheres de carne e osso me transmitiram e que, pincelando características daqui e dali, fui construindo o meu mundo do teatro. 
                                     Um beijo então para a Maria das Dores resolvida e contemporânea que correu atrás de seus sonhos e, aos 70 anos, retorna para sua terrinha natal para perceber que ali estava a sua verdadeira identidade; aproveito então para falar da Cinderela na sua eterna busca do Príncipe que lhe poria o sapatinho de cristal e ainda na Dona Nicolina, a beata da última peça com suas lições de moral que na verdade encobrem mesmo sua imoralidade nas atitudes. E este beijo então é da Marly Lopes que deu vida e força para essas mulheres tendo atuado de forma brilhante nas 3 peças já apresentadas pelo Grupo.
                                    E a força da Glorinha, professora solteirona e aposentada que cuidou dos pais e que usa isso para justificar suas frustrações numa vida tão cheia de leituras e tão isenta de emoções? E também a Branca de Neve fantástica e autoritária que ordenava a casa e defendia sempre a participação do idoso na preservação da memória das histórias infantis. Brilhante a participação da Leny Tostes na composição dessas personagens que me envaideceu como autor e como filho vendo-a atuar de forma tão dedicada!
                                   Homenageio agora a Rosa Mística, a dona de casa e mãe dedicada e carola que levou para o seu casamento os "dez mandamentos" como norma de conduta e que se sentia super feliz apesar de nunca ter saído de sua cidade (Degredo) e nem mesmo ter andado de elevador! rsrsrs Obrigado, Conceição Abreu Pestana pela carinho com que deu vida a essa mulher, personagem do Balanço Final.
                                   E a Maninha, irmã de Rosa Mística com sua mudez tagarela que dava comicidade ao texto daquela peça? Só mesmo a Bailarina traumatizada pelo tombo da caixinha de música para conferir à Glória Vargas a fama de quem nem precisa mesmo de texto para demomstrar ser talento também de atriz teatral!
                                  Na Emilia, boneca de pano graciosa e moleca, vemos a brincalhona e despretenciosa que não para de reclamar de sua "desumanização"  em detrimento das oportunidades dos humanos. E depois a Neide Guterres ainda vem na outra peça com sua Dona Modestina inconformada com a velhice e expondo suas dores e dissabores pelo passar dos anos. Grande Neide, gestual perfeito e brilho nos olhos de quem é uma atriz nata e que ainda tem muito que nos apresentar no palco.
                                 O Chapeuzinho Vermelho da Maria Amália para mim foi a maior surpresa entre todas as que se apresentaram nos palcos: começou tão tímida que não imaginei que fosse dar conta! E um dia apareceu lá com um jogo de amarelinha para incorporar à personagem que imediatamente todos percebemos que ela já estava pronta! E só fez uma Dona Laudelina tão introspectiva e maternal da peça seguinte porque eu já apostava minhas fichas nela e pudemos nos deliciar com uma interpretação firme e ousada!
                                Dona Ana Torres, aos 86 anos de idade, foi um marco no nosso Grupo na interpretação das vovozinhas (a do Chapeuzinho Vermelho e a Dona Miquelina nos seus 100 anos). A rabugice da primeira e a serenidade da segunda passaram a emoção de uma atriz feliz da vida por estar no palco, com seus amigos, dando exemplo de vitalidade e alegria na arte de viver!
                               A Mariana, a menina que visita o mundo encantado dos contos infantis, traz curiosidade, preocupação, carinho e  questionamento, provocando o idoso na busca de seu contato com a realidade do mundo atual. E depois não vem a Graça Salim interpretar a Dona Ubaldina, irmã gêmea da Modestina, e por isso mesmo sua defensora nas discussões familiares? Graça tem memória prodigiosa e compromisso com o texto e com a alegria de participar do grupo.
                              A Rosalina da Conceição Moreira traduziu exatamente tudo o que imaginei daquela irmã cozinheira, observadora, solteirona e participativa dos "movimentos" da casa na preparação de uma festa de aniversário. Demorou a tomar coragem para assumir a personagem... mas depois que conseguiu o "time"  certo, arrasou! Valeu Conceiça!
                             Fecho o texto-homenagem com a Brigitinha da Imaculada: a vizinha fofoqueira e barraqueira que se intromete nos assuntos corriqueiros ocorridos na casa que ela observa de sua janela e que não se cansa de opinar, transgredir, invadir! Zezé é humorista de carteirinha! Trouxe o humor rasgado que faltava para o Grupo adquirir maturidade para voos mais altos. Foi tão engraçada que acabei fazendo uma adaptação para incorporá-la como a Dona Baratinha nas apresentações que faremos em Juiz de Fora. Aliás, faremos ainda uma apresentação em Palma, Pádua e Miracema antes de irmos para lá!
                           Obrigado ao Buquinho do Matheus Matos que ajudou ao Príncipe Encantado nesse trabalho com  essas maravilhosas mulheres!
                           Pois é, no ano em que podemos eleger uma mulher Presidente da República, uso meus personagens para homenagear a todas essas que com suas marcas pessoais passam por nossa vida fazendo-a mais cheia de graça, muuuuuuuuuuuito mais feliz !